O bullying é uma agressão psicológica covarde, desmedida e invariavelmente de difícil detecção. Temática inominável até há pouco tempo fora dos consultórios, o bullying vêm ocupando o centro das atenções de pedagogos e psicólogos, tornando-se tema obrigatório de palestras e debates entre profissionais e, cada vez mais, incluindo os pais. No entanto, ainda é muito tímida a participação da parte agressora e familiares no centro do debate das ações que visam eliminar o bullying do ambiente escolar.

                O bullying começa a ser semeado quando uma criança de 5 anos persegue uma pomba numa praça ou puxa o rabo de um gato em casa e os pais acham engraçadinho. O bullying acontece quando repetidamente fazemos mal a alguém e nos divertimos com a dor alheia. Uma criança não tem entendimento do que é certo e da diferença para o que é errado. Mas toda criança sente bem o que seus pais gostam nela ou o orgulho deles diante de certos atos ou atitudes. Nossos filhos desejam nosso amor mais do que tudo e fazem qualquer coisa para satisfazer nossas expectativas, ainda que de forma equivocada.

                Uma criança que vê o pai sorrir quando puxa o rabo do gato pode sentir-se estimulada a interiorizar a idéia de que ao causar dor a alguém alcança o orgulho familiar. Por isso o bullying é uma agressão sem agressor: ele é constituído pela vítima agredida e a vítima agressora.

                Esse outro lado vitimado do bullying  ainda não tem recebido a atenção que necessita para poder melhorar o seu comportamento.Tende a ser visto como um agressor qualquer, um bandido em miniatura, ou como um ser mais forte, mais inteligente, com personalidade e vocação para liderar, como se um carrasco pudesse ser um líder.Ouvi muitas vezes a frase: “que culpa tem o meu filho de ter personalidade?”. Ou seja, é como se a vítima passiva fosse fraca, frágil, débil, enquanto a vítima ativa demonstraria, no gesto de barbárie, força, altivez, atitude.

                A dificuldade em se tratar o bullying provem do preconceito, ainda bastante difundido, de que os responsáveis pela vítima agredida têm de que seu filho ou aluno seria um fraco, quase um covarde, incapaz de se defender ou saber jogar com o outro. Numa linguagem antiga, mas não esquecida, seria um “manteiga derretida”. Enquanto que, ironicamente, aquele que agride passa a ser, ainda que de forma implícita, admirado, idolatrado, invejado na escola e até em casa.

                Digo em casa porque a pior de todas as formas de bullying não é a praticada na escola ou o cyberbullying”, mas a mais prehistórica, covarde, baixa e insensata modalidade de agressão psicológica jamais inventada: a agressão familiar de irmão contra irmão, de pai para filho ou dentro do casal. Espero ver o dia em que tanto o agredido quanto o agressor se sintam dignos de pedir e receber o amparo que necessitam.

Claudemir Casarin
Psicólogo/socionomista